quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Quarta parte - a arte-objeto

Ferreira Gullar em seu livro “Sobre Arte”(1) realiza , neste texto brilhante, uma retrospectiva sobre a evolução da formas de representação desde o classicismo até o abstrato, passando pelo impressionismo, expressionismo e cubismo (há mais movimentos nesse meio tempo).
Todos, de alguma forma, assumindo a interpretação da realidade como referencia, sejam a representando de forma mais próxima ao real (classicismo de Rafael) até sua negação (abstracionismo de Mondrian). Diz ele no mesmo texto: “...o artista elabora as sensações que lhe chagam do mundo que vê...” (p.10).
Bem ainda assim ficou a indagação de arte é uma obra contemplativa ou pode ser aplicada; útil,...objeto?
Creio que a resposta está na intenção, no desejo, no desígnio. Penso que toda criação possui um desígnio do criador e dessa intenção não escapam engenheiros, pesquisadores ou qualquer ser humano.
A criação gera alguma emoção no espectador e independentemente do tipo de sua intensidade. A beleza, a tristeza ou a solução que parecia inalcançável e se torna realidade. Fico imaginando o projeto de uma ponte. Há diversas soluções estruturais. Entretanto a busca está naquela que exprima a beleza de um cálculo estrutural e se materialize como uma solução evidente para o observador. Penso na Golden Gate. Uma obra prima da genialidade humana.
Imagino a revolta de Picasso ao pintar Guernica. Indignação contra a barbárie desse mesmo homem, capaz de criar maravilhas e também de gerar agonia imensurável
No mesmo livro do F. Gullar, há um capítulo II, “A arte na sociedade industrial”, o autor discorre, repito, de forma brilhante, sobre o assunto que investigamos nesse texto.
O autor comenta sobre a reviravolta conceitual das artes na virada século XX. Embora o autor não mencione a fonte, diz que Leger(2), ao lado de Brancusi(3) e Marcel Duchamp(4), ao visitarem uma exposição sobre aeronáutica pouco antes da primeira guerra, surpreendidos com a beleza da forma das hélices, ouviram de Duchamp:
“Qual artista faria melhor? Tu serias capaz de fazer melhor?”
Esta conversa é tremendamente esclarecedora sobre o tema que tratamos e sobre os caminhos conceituais que os movimentos artísticos tomaram desde então.


(1) GULLAR, Ferreira – “Sobre Arte” , Avenir Editora, Palavra e Imagem Editora – 1982.[1] Jules-Fernand-(2)Henri Léger (1881-1955); nascido na França, Argentan e renomado pintor e gravurista cubista.
(3) Constantin Brancusi (1876-1957) – Escultor Romeno, pioneiro na realização de esculturas abstratas.
(4) Marcel Duchamp (1887-1968) – Pintor e escultor francês e um dos fundadores do movimento Dadaísta e criador dos Ready made.

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GRAVURAS

O gravado constitui uma das minhas principais formas de expressão. Fascinado pelos gravadores do expressionismo alemão, sempre imaginei alcançar a magia de reproduzir um desenho com a delicadeza de Otto Mueller (1874-1930) ou a crítica social de Grosz (1893-1959), Otto Dix (1891-1969), ou o próprio Ernst Ludwig Kirchner (1880–1938) fundador da Die Brücke * ( a ponte).
A forma gráfica definida pela gravura do expressionismo alemão não resultou, de maneira imediata, na tentativa de seguir a técnica. Ela se manifestou pelo Kiri -ê, no qual o artista realiza suas ilustrações por meio do gravado em papel. A técnica é originária da China onde é executada em papel de arroz e deve manter estrutura original do suporte.
Entretanto o que me interessou foi o resultado plástico obtido com a técnica, empregando papeis mais grossos e negros. A solução de superfícies e linha se assemelhava fortemente com as gravuras dos artistas alemães.

Em 1983 e 1987, realizei duas exposições com desenhos realizados com esta técnica no papel no Centro Cultural São Paulo e no Franz Café. Nesse período tentei a reproduzir os trabalhos por meio de serigrafia, os quais resultaram impressões surpreendentes. A partir de então, estas serigrafias passaram a me estimular a tentar uma gravação usando o mesmo método de impressão que utilizava para a xilogravura (impressão usando pressão por meio de uma colher sobre papel de arroz). Entretanto o sonho de usar papel como matriz, só veio se concretizar em 2008.
A técnica me fascinou uma vez que não era necessário grande recurso na compra de madeira ou goivas e, ao mesmo tempo, poderia ser praticada por qualquer pessoa. Para esta técnica bastava um bom estilete, um cartão (papel com 400g) e criatividade.
Evidentemente, a durabilidade da matriz de papel é muito menor que as demais matrizes convencionais. Entretanto, como já mencionei, é muito prática e com características expressivas particulares.
Tal como a xilogravura em cortes de topo ou de fio, a experiência com outros materiais, em decorrência de sua resistência ao corte das goivas, definem um resultado específico para a gravura. Algumas destas experiências podem ser vistas nas imagens abaixo.


*Grupo de artistas expressionistas alemães formado em1905 em Dresden

rosto de homem

rosto de homem
gravura com matriz de papel - 2008

homem

homem
Xilogravura - 2006

ribeirinha

ribeirinha
xilogravura - 1986

perfil

perfil
Xilogravura - 1984

mulher apoiada

mulher apoiada
gravura com matriz de papel - 2008

Sangue

Sangue
Foto Rogerio Bessa Gonçalves (2003) - Edifício Copan - Arq. Oscar Niemeyer - São Paulo

Balanço

Balanço
Foto Rogerio Bessa - 2004 - Museu Oscar Niemeyer - Curitiba

Foto Rogerio Bessa (2005) -Viaduto Sta. Efigênia - São Paulo

Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo

Lilás

Lilás
Foto Rogerio Bessa - 2005 - Avenida São Luiz - São paulo

ontem

ontem
Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo

sugar bread

sugar bread
Rio - 2008

copan

copan
Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo