terça-feira, 30 de outubro de 2012

Galeria Uffizi - Florença



Em Florença tivemos a oportunidade ímpar de visitarmos o museu Uffizi. Fato que devo agradecer publicamente a Wania e a Cri pela organização impecável dessa atividade.
Para quem não conhece, consiste no maior museu de obras renascentistas do globo.
De fato é necessário preparo físico e psicológico para suportar o impacto do que verá nas salas deste museu. De cara você esbarra com o ‘Nascimento de Venus’ de Botticelli (1484). Obra do começo do renascimento onde se torna explícito o deslocamento da figura humana das trevas, tornando-o ator principal no palco da história. É o período da luz onde o homem renasce como centro do universo. Neste quadro, sobretudo, o tema escolhido é muito sintomático.
O homem volta a beber na fonte do clássico grego-romano onde as anotações nos ‘quadernos’ de Michelangenlo e Da Vinci, sobre os feitos plásticos e arquitetônicos de Roma, permitiram reposicionar o homem no que se tornará, pelo seu esplendor e perfeccionismo, um dos movimentos mais extraordinários da expressão e do conhecimento humano.
A organização do museu é soberba, na medida em que permite um avanço cronológico no renascimento. Desta forma podemos observar, com clareza, o avanço técnico e temático à luz dos anos. O museu nos apresenta de forma cristalina, a construção desse homem-luz.
A Itália permite estas surpresas e Florença é um dos ápices, (senão o ápice) das emoções. Portanto, é necessário que o espirito esteja preparado para tamanho choque ao ficarmos frente as obras mais significativas da humanidade. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que o resgate renascentista do perfeccionismo grego-romano alcançou o feito que pode parecer (e nos parece ser até hoje) algo inatingível em termos técnicos e expressivos. Fico devendo a explicação sobre o tema ‘interpretação’ uma vez que consiste em um capítulo totalmente à parte.
Lembro-me das palavras de um velho viajante: ‘sei por que viajei . Em minha opinião não basta viajar. É necessário se envolver de corpo e alma no é visto e ter olhos para ver. Ainda assim, acho muito provável que não verá, dado o grau de apreensão necessário, na medida em que a escala possui a dimensão da história humana.
De fato; é uma tarefa quase impossível onde talvez possamos absorver uma quimérica partícula dessa obra e, mesmo assim, penso que só isso nos basta, na medida em que adquirimos certa consciência da dimensão e profundidade do que há por traz de uma obra de Giotto. Acho que já é o suficiente.
É necessário ver para termos uma leve ideia do conjunto histórico e saber um pouquinho mais do que sabíamos antes de termos visto. Longe de ser pretensioso;  muito pelo contrário. Após o que vi, ficou maior minha sensação de insignificância frente à história e maior é minha humildade por ter consciência de minha ignorância. É um prazer, irreversível, de conforto e paz de espírito, na medida em que me reagrego neste caleidoscópio de sensações erráticas, decorrentes do ritmo de nosso cotidiano. Após o que vi  me sinto mais humano por que consigo me localizar no seio dessa história.
Com o que vi, acrescento algumas peças no meu ‘quebra-cabeça’ de informações, os quais se transformam em análise crítica sobre este trecho da história.
São parcos conhecimentos e sei que não terei vida suficiente para saber.

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GRAVURAS

O gravado constitui uma das minhas principais formas de expressão. Fascinado pelos gravadores do expressionismo alemão, sempre imaginei alcançar a magia de reproduzir um desenho com a delicadeza de Otto Mueller (1874-1930) ou a crítica social de Grosz (1893-1959), Otto Dix (1891-1969), ou o próprio Ernst Ludwig Kirchner (1880–1938) fundador da Die Brücke * ( a ponte).
A forma gráfica definida pela gravura do expressionismo alemão não resultou, de maneira imediata, na tentativa de seguir a técnica. Ela se manifestou pelo Kiri -ê, no qual o artista realiza suas ilustrações por meio do gravado em papel. A técnica é originária da China onde é executada em papel de arroz e deve manter estrutura original do suporte.
Entretanto o que me interessou foi o resultado plástico obtido com a técnica, empregando papeis mais grossos e negros. A solução de superfícies e linha se assemelhava fortemente com as gravuras dos artistas alemães.

Em 1983 e 1987, realizei duas exposições com desenhos realizados com esta técnica no papel no Centro Cultural São Paulo e no Franz Café. Nesse período tentei a reproduzir os trabalhos por meio de serigrafia, os quais resultaram impressões surpreendentes. A partir de então, estas serigrafias passaram a me estimular a tentar uma gravação usando o mesmo método de impressão que utilizava para a xilogravura (impressão usando pressão por meio de uma colher sobre papel de arroz). Entretanto o sonho de usar papel como matriz, só veio se concretizar em 2008.
A técnica me fascinou uma vez que não era necessário grande recurso na compra de madeira ou goivas e, ao mesmo tempo, poderia ser praticada por qualquer pessoa. Para esta técnica bastava um bom estilete, um cartão (papel com 400g) e criatividade.
Evidentemente, a durabilidade da matriz de papel é muito menor que as demais matrizes convencionais. Entretanto, como já mencionei, é muito prática e com características expressivas particulares.
Tal como a xilogravura em cortes de topo ou de fio, a experiência com outros materiais, em decorrência de sua resistência ao corte das goivas, definem um resultado específico para a gravura. Algumas destas experiências podem ser vistas nas imagens abaixo.


*Grupo de artistas expressionistas alemães formado em1905 em Dresden

rosto de homem

rosto de homem
gravura com matriz de papel - 2008

homem

homem
Xilogravura - 2006

ribeirinha

ribeirinha
xilogravura - 1986

perfil

perfil
Xilogravura - 1984

mulher apoiada

mulher apoiada
gravura com matriz de papel - 2008

Sangue

Sangue
Foto Rogerio Bessa Gonçalves (2003) - Edifício Copan - Arq. Oscar Niemeyer - São Paulo

Balanço

Balanço
Foto Rogerio Bessa - 2004 - Museu Oscar Niemeyer - Curitiba

Foto Rogerio Bessa (2005) -Viaduto Sta. Efigênia - São Paulo

Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo

Lilás

Lilás
Foto Rogerio Bessa - 2005 - Avenida São Luiz - São paulo

ontem

ontem
Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo

sugar bread

sugar bread
Rio - 2008

copan

copan
Foto Rogerio Bessa (2005) - São Paulo